a língua escande o nada no escuro
Ensandeceu
porque quis dar um nome
a todos os dias da sua vida.
1.
à porta da casa e da rua
Luna não sabe nem de uma
nem de outra
o nome
todo o lugar é rua todo
casa
2.
do tempo nada
sabe a hora do caixote marcada
pelo decreto das entranhas
não há horas
inconvenientes no relógio dela – quando
há visitas ou quando alguém morre
no meio
da conferência do cientista do centro
4.
ataques de imodéstia apenas dizem
que está em toda a parte em aconchego
no caixote à lareira qualquer canto
é casa
se te enroscas fechas um dos olhos
deixas
que a tua sombra coincida
contigo
5.
só a sombra dorme – ela
encosta-se à sombra com os pés de lã
sem o nome a saída
de emergência é apenas a entrada
para o possível
6.
escolhe a catástrofe –
não sabe
se estão abertos ou fechados
os olhos
7.
o abismo é um hábito – tira-o
da algibeira
quando bate o vício
da vertigem.
De Adriana Bebiano na Revista Confraria do Vento, número 16, Editora Confraria do Vento, 2007.
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