sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Anderson Fonseca: Alucinação

Papai quando me olha vê em mim crisântemos,
Flores de Auschwitz, flores de Alcatraz, flores de Waterloo,
flores de Guantánamo, flores libanesas, flores de lis,
Dos olhos saem bromélias,
Violetas penduradas nos cílios,
Os seios lacrimejando orquídeas,
Na boca, papai garante, brotam arnicas e raízes,
Jasmins crescem nos joelhos,
Os ouvidos escutam girassóis,
As unhas transformam-se em narcisos, espelhos claros em que me contemplo,
Papai, de vez em quando, tira lírios dos meus cabelos conta os trevos das minhas mãos e cultiva begônias
e lisianto no meu cérebro, e no dia-a-dia lança sementes de flamingo nos meus sonhos,
É terrível admirar as dálias que caem dos narizes imergindo em copos-de-leite que são os bicos dos seios,
Ainda mais saber, que papai fez os meus pés na infância se tornarem gardênias de um quarto negro,
Hoje ele planta campanélas no meu fígado
E tulipas contornam o pescoço
Espalharam sobre meu corpo rosas de alucinação tantas e tantas flores sobre a pele que não consigo contá-las
As abelhas pousam em minhas rosas e recolhem néctar dos delírios, papai diz que a fonte que no meu intimo flui irá um dia esgotar, mas de onde vem a chuva que molha o jardim multicolorido, que agricultor tão nobre a conserva com cuidado?
Sei que quando chegar a hora do galo as flores desbotarão e meu pai não irá mais regá-las a esta hora as palavras estarão secas e fenecidas e sobre a lápide escrito o nome do botânico,


de Anderson Fonseca, in Escritos do Exílio,
htt://escritosdo-exilio.blogspot.com, 2007.

2 comentários:

mdsol disse...

Vozes da esperança? Mesmo na noite mais escura?
:)

M. Cambará N. disse...

Poesia-marco do Anderson.