terça-feira, 15 de julho de 2008

Mário de Andrade: Rito do Irmão Pequeno (VI)

VI


Chora, irmão pequeno, chora
Porque chegou o momento da dor.
A própria dor é uma felicidade...

Escuta as árvores fazendo a tempestade berrar.
Valoriza contigo bem esses instantes
Em que a dor, o sofrimento, feito vento,
São conseqüências perfeitas
Das nossas razões verdes,
Da exatidão misteriosíssima do ser.

Chora, irmão pequeno, chora
Cumpre a tua dor, exerce o rito da agonia
Porque cumprir a dor é também cumprir o seu próprio destino:

É chegar àquela coincidência vegetal
Em que as árvores fazem a tempestade berrar.
Como elementos da criação, exatamente.



Gilda de Mello e Souza (org.), Os Melhores Poemas de Mário de Andrade, Editora Global, São Paulo, 2003.

Um comentário:

Leandro Jardim disse...

Relamente muito bom esse poema do Mário de Andrade!

abração